Sunday, July 26, 2009

You Are (Not) Alone - Part I

Clarice e Vito tinham uma vida pacata com o bebê. O pequeno trazia alegria, vida, luz àquela casa de carpete e cortinas escuras, embora seu pai se afastasse cada vez mais. Os negócios o chamavam.
Apesar da insatisfação de Clarice, tudo parecia correr normal e naturalmente, enquanto do outro lado do bairro, na casa de Michael, o mundo começava a desmoronar na cabeça dele e de Sofia. Mas as fagulhas do fogo mafioso no qual a família Corleone adentrava sem se queimar ou chamuscar, estavam prestes a chegar à casa de Vito.
Mãe e filho ficam juntos no jardim por tardes a fio, e a cada dia, Clarice encanta-se mais e mais com a leve e suave evolução daquele serzinho.
Em uma dessas tardes, o bebê dormia tranquilo no berço e Vito estava com Michael, na casa deste último. Resolviam pendências do último entrave entre os Corleone e os Benneto, resultando na morte de Giacomo, o primogênito de Giuseppe Benneto, chefe da família inimiga.
Clarice estava no jardim, sentada em uma cadeira de madeira, ao lado de uma mesa com uma taça de vinho e um cinzeiro. Seu cigarro queimava com o passar dos segundos, até que ela ouviu a campainha tocar. Se levantou e, atravessando uma sala, chegou à porta da casa. Era o carteiro, ele trazia um envelope para Vito. O remetente era uma mulher, os dados na carta tinham uma bela caligrafia e o nome Madalena.
- Madalena ?, pensou Clarice.
Ela levou a mão ao queixo e sentiu um cheiro de perfume vindo de seus dedos. Não se lembrava de ter passado perfume a não ser de manhã. Cheirou a mão direita, a esquerda e finalmente decidiu farejar o envelope. E era dali que o cheiro de perfume vinha. Seus olhos cerraram-se levemente numa raiva crescente. Clarice então, foi até o escritório, pegou o abridor de cartas e arrebentou o envelope, sedenta por saber o que continha naquilo.
- Por que alguém colocaria perfume num envelope ? Numa carta ?!, tentava entender.
O cheiro ficou mais forte quando ela pegou o papel de carta, fino, com a mesma caligrafia do envelope. Ela então, foi abrindo devagar, poupando-se de destruir aquilo sem ler.
Abriu a carta delicadamente enquanto se sentava na confortável cadeira de couro do escritório. A cada palavra passada, menor a credulidade. Não era possível. Clarice não podia acreditar. Ela não podia crer em nada, e nem conseguia. Sua vida com Vito passou frente aos seus olhos marejados.
Com a necessidade de mais cuidados por conta do bebê, Vito havia contratado mais empregados. Um mordomo, além da cozinheira e governanta, e um motorista. O mordomo, Miguel, se tornou muito próximo de Clarice na mesma proporção com que Vito era engolido pelos negócios da família. Miguel era moreno claro, tinha mais ou menos 1.80 m, seu biotipo era magro, mas ele tinha muito vigor e disposição. Tinha uma belíssima voz e adorava cantar para o pequeno Vito.
Naquele momento indefinido de Clarice, no hiato vívido de seus olhos, Miguel entrou na sala.
- Aconteceu alguma coisa ?
E Clarice permanecia imóvel, com os olhos encharcados, e o pensamento emaranhado.
- Sra. Clarice ?, Miguel se aproximou. Ajoelhou ao lado da cadeira e tocou o braço dela. Ela então, olhou para Miguel e, sem dizer uma palavra, se jogou em seus braços, procurando o conforto que havia se dissipado com aquela carta.
Ele, sem saber muito bem o que fazer, retribuiu o abraço e colocou a mão sobre os cabelos de Clarice enquanto tentava acalmá-la.
- Sra. Clarice... quer me contar o que houve ?
Ela colocou a mão enfrente à boca e, tentando recuperar o fôlego, assentiu com a cabeça. Os dois então se sentaram na soleira da porta da varanda e começaram a conversar. Clarice se propôs a ler para ele a carta, que dizia, entre outras coisas:

"Vito,

(...) Depois do mês maravilhoso que passamos juntos, tenho certeza de que você é o amor da minha vida. Não vejo a hora de lhe ter somente para mim !
Quero dar-lhe tudo o que sua esposa não lhe dá, além de muitos filhos e toda a alegria que te falta... (...)
Te amo muito e te espero todo dia.

Um beijo,
da SUA Madalena"


Clarice, mais uma vez, ao ler aquelas palavras, se sentiu sem chão, sua realidade desabava perante seus olhos e pés. Seu olhar estava parado, seu rosto quente, úmido pelas lágrimas que lhe rolavam incessantemente e sua mão segurava a carta. Miguel pegou a carta, colocou-a de lado, e mais uma vez abraçou Clarice. Desta vez, ela olhou seu rosto e fitou-lhe os olhos pausadamente. Eles eram de um castanho profundo e intrigante, seu rosto tinha bonitos traços, quase delicados. Ela levou sua mão ao rosto dele e acariciou aquela pele morena, sem excessos, e depois, a boca, com lábios corteses e rosados, que abrigavam o sorriso mais bonito que Clarice já havia visto.
Miguel não se assustou, não a empurrou ou sequer parou-a. Ele nutria, guardado na mais profunda delicadeza de seu peito, um amor sem fim por ela. E ali, seu coração parou por um segundo. Nada parecia real enquanto Clarice tocou sua face, olhando em seus olhos.
Ele segurou a mão dela, beijou o dorso e então colocou-a sobre seu peito. Seu coração parecia ter cavalos selvagens querendo desbravar campinas sem impedimentos. Clarice sentiu o coração, mas logo retirou sua mão. Enxugou seu rosto e desviou seu olhar.
- Me desculpe..., disse ele, um pouco atordoado enquanto se levantava.
Clarice o olhou mais uma vez e, ainda sentada, segurou a mão dele antes que ele pudesse se afastar. Ela sorriu sem mostrar os dentes, mas demonstrando uma ternura infindável. Miguel se ajoelhou e beijou a mão dela mais uma vez, se levantou e foi para o seu quarto.
Era um pequeno cômodo, do lado de fora da casa, na parte de trás, com uma vista maravilhosa. Lá, ele jogou-se na cama e pensou em tudo o que acabara de presenciar. Não podia acreditar...
Clarice, enquanto isso, pensava no que fazer. Ela estava agora, no quarto do bebê, com a carta ainda na mão, digerindo tudo aquilo. Mas, ao mesmo tempo, aquele momento com Miguel não lhe saía da cabeça. Os olhos dele haviam ficado gravados nos dela, e ela não conseguia parar de pensar nele.

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