Saturday, July 25, 2009

No, not you


Sofia acordou-se com uma dor de cabeça que mais parecia um atropelamento craniano. Sinais... Sinais da última noite nada agradável. Colocou seus pés no chinelo com um discreto pompom rosado na frente e pôs-se a descer as escadas, pois já sentia o cheiro do café por todos os cômodos, e ela teria certeza que o mesmo aliviaria tal dor infernal. Sentou-se a mesa, de vista baixa, e cumprimentou:

- Bom dia, Dona Brunette...
- Bom dia, Sofia. - uma voz grossa respondeu. Sofia tremeu, levantou a vista que passava por sapatos pretos, um paletó risca de giz empoeirado e uma gravata vermelha. Era Giácomo Benneto, um dos piores inimigos de Michael. E Sofia sabia o que significava aquela gravata vermelha.
- Vendeta? - perguntou ela, desesperada.
- Se acalme, minha doçura... Eu não farei nada demais com você... Nada perto do que eu fiz com todos aqueles idiotas dos seus empregados... - e riu maliciosamente, com a xícara na mão, se aproximando de Sofia.
- E Michael? Onde está Michael? O que fez com ele? - sussurrou Sofia, em tom de desespero, ao ver, através da janela embaçada, todos os seus seguranças e serviçais mortos no jardim.
- É justamente isso que eu quero saber... Aonde está ele? - e Giácomo chegou tão perto, mas tão perto de Sofia, que a carregou e a colocou sentada em cima da mesa, abrindo-lhe as pernas - Diga, meu bebê. Aonde está aquele crápula do seu maridinho? - e, alisando suas, enconstou um punhal de prata rente à sua jugular, obrigando-a a ficar muda e paralisada. Com a mão esquerda alisava as coxas e acariciava a virilha de Sofia com o polegar. Ela estava pálida, trêmula, suada.
De repente, um tiro ecoou na Mansão Corleone. Sofia deu um berro que talvez pudesse se ouvir do outro lado da cidade. E Giácomo caiu ao chão, com uma bala tão bem cravada em sua cabeça, que ele mal poderia ter tido alguma reação. Era Michael, que correu desesperadamente na direção de sua esposa e a carregando no colo, a levou para o carro, engatou a marcha e acelerou.
- Me perdoe, Sofia. Me perdoe. Por tudo. - disse Michael com a expressão séria imutável de sua face, mas com lágrimas recheadas de culpa nos olhos - Aquele carcamano idiota ia te contaminar o útero e a alma em alguns minutos se eu não tivesse sido ágil. Me perdoe!
Sofia saiu do banco traseiro e pulou para o banco da frente, agarrando Michael e o beijando de uma forma tão desesperada, que mal reparou no exército de homens mortos em seu jardim. Aquilo era um perdão. Um perdão digno de Sofia Corleone.
- Eu te amo. - sussurrou Michael, ainda ofegando, e, por um milagre, esboçando um sorriso terno nos lábios, sem mostrar os dentes.
Ela o colocou entre seus seios e disse que jamais o deixaria. Nem em vida, nem em morte. Porque se, algum dia, ele a quisesse deixar, haveria de ser com um beijo. E pediu que se isso ocorresse, que levasse com ele a sua vida.

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