Sunday, May 3, 2009

O outro lado...




Para Clarice e Vito

Clarice despediu-se de Sofia ainda com um sorriso nos lábios. As duas foram até a porta e Clarice foi para o carro, onde Vito a esperava. Ela abriu a porta, colocou a bolsa na banco de trás e sentou-se com cuidado ao lado do marido.
Antes que ela fechasse a porta, ele pegou sua mão esquerda e beijou. Ela ficou parada, admirando a cena e lançou um olhar terno ao rosto do marido. Vito acariciou seu rosto e se aproximou, dando um lento e apaixonado beijo na esposa.
- Nossa... mas, quanto amor! - Clarice disse rindo.
- Você nem imagina! - respondeu o marido, também rindo.
Ele abaixou-se um pouco e deu um beijo na barriga, segurando-a com as duas mãos.
- E o garoto? Te deu muito trabalho hoje?
- Que nada... deu alguns chutes para avisar que está quase chegando, mas nada de incomum.
- Que bom, que bom - disse ele, ligando o carro e saindo.
Vito as vezes conservava um olhar distante e feições mais sérias, o que deixava Clarice sem saber como agir. Ele sempre ficava muito pensativo quando não falava e o silêncio tétrico, rompido somente pelo motor do carro, tomava conta do casal.
- Vito, meu amor... o que foi ? Sempre que venho ver a Sofia, você fica quieto na volta para casa. Preciso saber o que tanto te atormenta!
E ainda assim, ele não emitiu som algum.
Chegaram em casa, ele parou o carro, pegou a bolsa de Clarice no banco de trás e ficou esperando-a descer. Ela foi caminhando em direção a entrada, ao lado do marido.
A porta se abriu, os dois entraram, e Vito a fechou firmemente.
- Michael.
Clarice tirava o cachecol e seu bonito chapéu azul marinho quando ouviu Vito pronunciar o nome do irmão. Ficou sem entender e, então perguntou enquanto colocava suas luvas sobre o aparador:
- Michael? O que tem ele, Vito? - fitou o rosto cabisbaixo do marido que ainda estava com a mão na maçaneta da porta - Vito!
- Ah, Clarice! - exclamou o marido, levantando a cabeça e indo abraçá-la com força e os olhos fechados.
- O que foi, meu Deus? O que aconteceu? - ela perguntava sem entender muita coisa.
Vito então a levou à sala e enquanto se servia de uma dose de whisky, foi dizendo:
- Não gosto como ele olha para você. Sempre parece que ele tem alguma coisa em mente, que se relaciona a você. Você, você, você.
Clarice, ainda atônita com a declaração do marido, tentava balbuciar alguma coisa para acalmá-lo:
- Vito.. mas..eu não..
Ela respirou fundo e se levantou. Foi em direção a Vito e pegando a mão esquerda dele, pediu:
- Olhe pra mim.
Ele levantou o rosto e fitou os olhos de Clarice.
- Sabe porque você e eu usamos essas alianças? Han? Porque nos amamos, Vito. Não há parentes, não há Sofia, nem Michael, nem ninguém que possa mudar isso.
Sem tirar os olhos dos do marido, Clarice colocou a mão dele em sua barriga.
- Sente? Consegue sentir essa vidinha aqui dentro?
Vito assentiu com a cabeça e respirou fundo. Segurou o rosto da mulher com delicadeza e beijou-lhe o todo o rosto.
- Não sei o que aconteceria se eu te perdesse.
Clarice, com os olhos fechados, sentindo os beijos do marido, abriu um sorriso leve e inocente. Vito encostou sua testa na dela e ficaram se olhando daquela distância.
- Eu simplesmente não sei amar ninguém sem ser você.
- Eu te amo, Vito. Te amo - e ela o beijou com todo o amor que possuía mais o que ele lhe dava, e ele a abraçou por trás, acomodando sua cabeça no ombro esquerdo dela, sentindo o cheiro de seu perfume.
Os dois foram assim pela sala, subindo as escadas e chegando até o quarto. Lá, ele a deitou na cama, tirou seus sapatos e delicadamente passou sua mão por toda a pele dela.
Vito era um homem muito passional. Era firme em suas escolhas, decisões, e atitudes, mas era movido pela paixão. Com Clarice, não era diferente. Ele era completamente apaixonado por ela, mas o medo de perdê-la e o seu ciúme só não o consumiam porque ela mesma o fazia botar os pés no chão.



Para Sofia e Michael

Sofia trancou a longa porta de mármore, e subiu para o quarto. Arrumou as colchas da cama, e também os travesseiros, na posição que Michael gostava. Trocou seu vestido por um lindo baby-doll longo, dourado. E colocou um roby para transitar pelos corredores. Saiu do quarto e foi em direção ao escritório, onde Michael estava.
- Michael? Eu já estou indo dormir, você não vem? – e adentrou a enorme sala, carregada de papéis e lustres, onde ele tragava um charuto na janela.
- Já estou indo, Sofia. Só vou esperar acabar meu charuto. – Sofia surgia por trás de Michael, e o amaciava os ombros.
- Me desculpe por hoje. – disse ela, baixinho.
- Não fale mais disso, por favor. – e ele se virou, jogou o charuto pela janela e a brindou com um longo beijo, massageando sua nuca, enquanto as mãos suaves e pequenas de Sofia repousavam sobre seu peito.
Os dois andaram em direção ao quarto abraçando-se e trocando carinhos, deslizando as mãos pelos corpos amados, querendo sentir os batimentos cardíacos um do outro, pele com pele.
E se amaram intensamente... Michael era tão carinhoso, que Sofia quase nem se esforçava, ficava só no deleite de seus braços, sendo velada por um homem forte, por dentro e por fora. Os lençóis eram de linho, e a cama ficou pequena. Dormiram no gozo quase que eterno de um amor que rompe as fronteiras das palavras, dos sussurros, dos gemidos... Dormiram na esperança de um novo acordar.
Mas uma hora o sol teria de invadir – mesmo que pelas fendas – aquelas cortinas de veludo vermelho com bordados dourados. Michael se levanta, coloca um roupão atoalhado vermelho, e anda pelo quarto, sorridente. Aproxima-se de Sofia, e a beija delicadamente, acordando-a.
- Bom dia, meu amor! – diz ela, brandamente, enquanto enche Michael de beijos – Você não vai trabalhar hoje, vai?
- Preciso... Tenho muitos negócios a tratar no escritório central e Vito já está a me esperar, meu bem.
- Hum... Você poderia ao menos tomar café comigo? – disse Sofia, gargalhando enquanto mordia o queixo de Michael.
- Posso. Claro que posso. – sorriu ele.
Desceram as escadas até a cozinha, onde a tia de Michael servia o café.
- Bom dia, tia Margarida!
- Buonno, Michael!
E eram quitutes que rolavam de um lado a outro da mesa, um servindo a boca do outro, e complementando tudo isso com beijos e carinhos. O suco não tinha gosto. Eles preferiam a doce saliva quente, que os lembrava da noite que tinham passado e do resto dos dias que iriam passar. Não haveria mais dor. Nem culpa. Eles decidiram ir adiante sem olhar para trás. Mesmo que Michael continuasse olhando para os lados...

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